Para suavizar a quarentena em tempos difíceis de coronavírus, montei essa lista de sugestões de séries japonesas disponíveis na Netflix. Além dos programas que eu gosto, compilei também dicas de amigos que estão sempre antenados nos lançamentos da plataforma de streaming.
Aqui vão as minhas dicas!
Seguidores (Followers)
Uma fotógrafa super power no mundo da moda e uma aspirante a atriz que ama Tarantino são as personagens centrais dessa série, que estreou na Netflix no fim de fevereiro. Difícil é não se deixar seduzir pelo ritmo, trilha sonora e visual – da série E dos personagens, já que todos parecem ter recém-saído de um banho de loja em Harajuku (do lado cool, não do lado kawaii). Para quem ver aquela Tóquio colorida, dos luminosos, dos cabelos coloridos, Followers é um prato cheio. Tem momentos em que parece até que estamos diante de um grande comercial.
À parte da estética, a série ganha pontos por envolver questões contemporâneas das mulheres, muitas das quais não são tão abertamente discutidas no Japão. A decisão de ter e criar filhos sozinha, os desafios de conciliar carreira com maternidade e/ou relacionamentos, envelhecimento e julgamento, a pressão das redes sociais e o risco de backlash por qualquer deslize são só alguns dos assuntos abordados. É muito bacana também é ver a naturalidade com a qual certos eventos e assuntos são tratados, como um pedido de casamento entre dois homens ou a paixão não correspondida da artista Sunny pela sua melhor amiga. A fluidez como esses momentos se mesclam à narrativa sem entrar na categoria de “núcleo gay da série”, que sentimos em outras produções, mostra o olhar cuidadoso da diretora Mika Ninagawa em, no fim das contas, mostrar pessoas se relacionando com pessoas.
Terrace House
Óbvio que eu não deixaria de incluir Terrace House nessa lista! Quem me acompanha, já sabe que sou fã do reality show, tanto que já escrevi esses dois posts: um sobre a temporada “Boys and Girls in the City”, gravado em Tóquio, e outro sobre “Aloha”, que se passa no Havaí. Para quem não tem ideia do contexto, 3 moças e 3 rapazes que não se conhecem são escolhidos para morar numa super casa, sem precisar deixar de lado a vida que levam. Ou seja, saem para estudar, trabalhar, passear, namorar, conversam com amigos e familiares, e acessam internet normalmente – inclusive para ver o que está sendo falado sobre eles. E, em outro ponto diferente do Big Brother (que na verdade é uma referência infeliz), os participantes não estão concorrendo a nenhum prêmio e podem deixar o programa quando bem quiserem, sendo substituídos por um novo integrante.
Gosto do programa porque dá para aprender muito sobre as interações sociais dos japoneses, principalmente na hora do romance, além de expor a mentalidade dessa galera em relação à trabalho e futuro, e o jeito que tentam resolver problemas de convivência. A produção da série tende a escolher jovens mais “fora da curva” da sociedade japonesa, como artistas, músicos, empreendedores e esportistas. E, não raramente, vemos estrangeiros ARRASANDO no japonês, como o caso da russa Vivi e do italiano Peppe (Tokyo 2019 – 2020), o que é muito inspirador para mim. Um super bônus são as risadas garantidas pelo time de espectadores-comentaristas, composto por uma galera conhecida da TV e do cinema japonês, que não se acanha em tirar um sarro do pessoal que está sendo observado.
Nós Temos um Grande Problema (My Husband Won’t Fit)
Tanto em português quanto em inglês, o título da série é muito mais discreto do que o original em japonês: “o pênis do meu marido não entra”. Sim, é isso mesmo! A trama gira em torno de um casal fofo, que se ama, mas que não consegue consumar o ato por questões anatômicas.
Pelo título, estava até esperando uma comédia, mas a série, que aborda essa particularidade do casal principalmente pelo viés da mulher, mescla momentos cômicos com cenas mais tocantes e, às vezes, meio deprês. É meio sofrido acompanhar o processo de auto-depreciação da doce Kumi-chan, que se submete a situações extremas ao tentar lidar com a frustração de não conseguir transar com seu marido. O questionamento que a série levanta é interessante e traz uma visão diferente do que é aceito como “padrão” ou “normal” dentro de um relacionamento amoroso.
Midnight Diner: Tokyo Stories
Midnight Diner é uma série deliciosa de acompanhar tanto pelas histórias sensíveis, quanto pelos pratos de dar água na boca. Aqui, já fica o aviso: assistir a série de estômago vazio é uma tortura! Cada episódio propõe um conto independente, sempre tendo como pano de fundo o pequeno restaurante do “Master”, que prepara o que o cliente quiser, desde que ele tenha os ingredientes. As receitas não são rebuscadas mas sempre têm alguma conexão afetiva com a história de cada personagem. Para quem quiser saber mais, aqui compartilho curiosidades sobre a série e, neste outro post, me arrisquei a fazer uma tradução da música de abertura.
E, a seguir, as dicas da galera 😉
Atelier – dica da Soraya Tengan (@nonormal.jp)
“Atelier foi o primeiro seriado japonês que vi na Netflix, e até hoje é o meu favorito de lá. Este seriado conta a história de Mayuko (Kirei Mikitani) no seu primeiro emprego, em um atelier de lingerie em Tóquio. Jovem inexperiente em diversos aspectos da vida adulta, ela aprende no trabalho não só a ser uma profissional melhor, como também uma mulher mais confiante. A presidente e estilista do atelier, Mayumi Nanjō (vivida pela fantástica, Mao Daichi), serve como mentora e figura materna de Mayuko, guiando e dando suporte nesta jornada.
Eu adoro este seriado porque mostra como um relacionamento construtivo entre mulheres pode realmente empoderar uma a outra, tornando-as mais fortes para lidar com questionamentos impostos pela sociedade em geral.”
Kakegurui – dica do Roberto Maxwell (@robertomaxwell)
“Não sou muito fã de animê e mangás. Mas é mais por causa do hype que se cria em cima das coisas e eu tenho pavor de hype. Em geral, quando vejo ou leio alguma coisa acabo me surpreendendo. Foi o que aconteceu com a versão live action de Kakegurui. A série, com duas temporadas na Netflix, se passa numa escola de gente endinheirada na qual o ranqueamento social das alunas e alunos se dá através de apostas. Então, chega na escola uma aluna nova, a Yumeko Jabami, que parece ser menos rica que a galera da escola.
Mas, para compensar, a mina é a louca das apostas. Ela nem se importa em ganhar ou perder. O que ela quer é jogar e ver o circo pegar fogo. Quem conhece o universo escolar japonês sabe que bullying e outras coisas nada legais rolam a rodo. Tudo isso aparece na série só que da forma mais insana possível. Meus parâmetros de loucura para ficção pop japonesa foram atualizados depois de ver essa série.”
O Diretor Nu (The Naked Director) – dica da Bruna Luise (@bruna_luise)
“The Naked Director é uma série japonesa que, na minha opinião, desafia bastante a cultura e tabus. A série mostra como era a indústria pornográfica nos anos 80 e início dos anos 90 e como o diretor de vídeos pornô Toru Muranishi, na série interpretado por Takayuki Yamada, desafiou o mercado pornográfico, a máfia japonesa e os consumidores da época. Tudo para produzir o que hoje é muito comum em vídeos pornôs, mas que naquele tempo era impossível, como sexo explicito, genitais a mostra, sexo real sendo filmado e muitas outras quebras de tabus, como fantasias sexuais.
Acredito que uma série assim nunca teria recebido o hanko (carimbo de assinaturas japonês) de alguma emissora japonesa. Só mesmo a Netflix pra quebrar esse tabu. Nossa, quanta quebra de tabus, né?! Mas se você ficou um pouco curioso com a série e tem algum receio, experimente assistir os primeiros episódios, que já ilustram bem como o diretor foi dando forma a esta ideia.
Acho importante ressaltar também que essa não é uma série pornô, mas sim uma série sobre filmes pornôs com muitas cenas explícitas de sexo, muito diálogo sobre a indústria e pensamentos fora da caixa.”
Million Yen Women – dica da Denise Makimoto (@13dmk) e do Carlos Kato (@chkato)
“Um escritor sem muito sucesso recebe cinco mulheres misteriosas em sua casa dispostas a pagar 1 milhão de ienes (cerca de 10 mil dólares) todos os meses para morarem com ele. Apesar de meio absurda, a história se desenrola de forma interessante mostrando as características distintas de cada personagem, em um suspense daqueles que você não consegue parar de assistir até chegar no final.”
Ossan’s Love* – dica do Joe Takata
“O seriado é um drama BL, Boy’s Love, uma categoria de drama de entretenimento atípico para brasileiros: fala de garotos que amam garotos, mas que, geralmente, são escritas por e para mulheres. No caso de Ossan’s Love, fala do amor entre homens um pouco mais velhos, já que a “ossan”, em japonês, é um jeito de se referir a homens acima dos 30 ou 40 anos.
A história é sobre Haruta, um cara na faixa de 30, hétero, solteiro e meio encalhado, que não tem sorte com as mulheres e não sabe fazer nada em casa, nem mesmo lavar a roupa ou esquentar uma comida. Um dia sua mãe vai embora para ele aprender a se virar. Então, Haruta convida seu novo amigo de trabalho para dividir a casa com ele – isso mesmo, ele não aprende a se virar, só arruma alguém pra substituir a mãe. E, num mesmo dia, é surpreendido por declarações de amor tanto do seu chefe, quanto do seu roommate! Para quem estava encalhado, certamente é muita emoção num tempo tão curto!
Eu vejo pouca Netflix e são poucos os conteúdos japoneses com legendas em inglês. E que surpresa! O seriado é romântico, fofo e engraçadíssimo. São caras, bocas e expressões corporais hilárias, com algumas doses de ingenuidade, coisa que realmente remete ao BL. E ainda mostra bastante da cultura japonesa, mostrando um lado emotivo e dramático dos japoneses, saindo um pouco do imaginário comum. O seriado, com atores conhecidos, foi de enorme sucesso na TV japonesa, tanto que ganhou um longa e uma segunda temporada.”
* ainda indisponível no Brasil