Confesso que meu primeiro contato com a obra de Yayoi Kusama foi ok, nada de muito empolgante. Em Naoshima, você encontra essas abóboras gigantes cheias de bolinhas pintadas, onde a galera entra e tira fotos fofas com o rosto pra fora dos buracos (como minha irmã :P).

Abóbora-Yayoi-Kusama-Naoshima

Só quando fui ao Matsumoto Museum of Art, na cidade de Matsumoto (a menos de 200km de Tóquio), onde ela nasceu, é que me dei conta da genialidade de sua obra. Percorrendo os ambientes da exposição permanente que o museu dedica a artista, conheci sua história e entendi o que significava aquela infinidade de bolinhas.

Yayoi Kusama, 84 anos, vive há mais de 30 anos em uma instituição psiquiátrica em Tóquio, por iniciativa própria. Desde a infância sofre de alucinações e de transtorno obsessivo compulsivo e foi buscar na arte uma forma de lutar contra sua doença e pensamentos suicidas. Reprimida pela sua família de valores tradicionais japoneses, principalmente por sua mãe, que rasgava seus desenhos e dizia que ela tinha que se casar com um homem rico e virar dona-de-casa, foi morar em Nova York no final da década de 50, época em que Andy Warhol estava despontando no mercado de arte.

Diferente do principal expoente da pop art, a artista não teve muito sucesso com os marchands e as galerias. Optou pelas performances em espaços públicos, nas quais se manifestava pelos direitos da mulher e pelos direitos civis. Deixava claro sua oposição aos valores ultraconservadores do Japão do pós-guerra e à guerra do Vietnã.

Yayoi Kusama-Paints-an-Actor

O trabalho de Yayoi Kusama vai além de telas e performances de rua. Em suas instalações fascinantes, o público pode ter uma ideia do que se passa em sua mente. Nos ambientes espelhados, suas famosas bolinhas, frutos de suas obsessões e alucinações, multiplicam-se em milhares e milhares de pontinhos.

Um daqueles pontos é sua vida, uma partícula entre milhões de outras partículas.

Esse vídeo, da Tate, traz mais informações sobre a artista, pra quem se interessar.

A retrospectiva “Yayoi Kusama: Obsessão Infinita” está em cartaz no CCBB do Rio e, em maio do ano que vem, vai para o Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo, onde fica até 24 de julho. Essa exposição bateu o recorde de visitantes da história do Malba, em Buenos Aires, destronando, olhem só, Andy Warhol e sua expo “Mr. America”, de 2010.  Fica a dica.