Quando a gente viaja ou mora fora, uma das coisas mais legais de fazer é seguir as dicas dos locais. Como eu queria fazer uma listinha para o blog de bairros bacanas em Tóquio, perguntei para a Tomoko, esposa do meu primo, qual seria a sua recomendação. Nascida e criada na capital japonesa, ela nem titubeou pra responder. Disse que gostava muito de Yanaka e que esse seria seu osusume.

Osusume (おすすめ), aliás, é uma palavra mágica, que pode abrir muitas portas no Japão. Significa recomendação, sugestão, conselho. É aplicável em vários contextos, seja em restaurantes, lojas, centros de informações turísticas, hotéis, etc. Os japoneses usam muuuito essa palavra e sempre que pedimos pelo osusume, eles têm a resposta na ponta da língua.

Para perguntar qual seria a recomendação, podemos falar assim:

  • Osusume wa nan desu ka? (おすすめ は なん です か。)

Ou de um jeito mais simples e direto:

  • Osusume wa? (おすすめ は)

Eu já tinha ido ao bairro uma vez por indicação do Roberto Maxwell, logo que cheguei no Japão pela primeira vez. Mas, ainda meio perdida na cidade, acabei indo pra um lado mais residencial e acabei não vendo os principais atrativos da região rs. Nessa segunda vez, mais bem informada e preparada, fui direto à área mais comercial – mas não menos charmosa.

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Yanaka é conhecida por preservar um clima mais rústico e tradicional do Japão. A poucos metros da saída da estação de Nippori, chega-se na rua Yanaka-Ginza, cheia de lojinhas de artigos japoneses como cerâmicas, chinelos de madeira, lembrancinhas e quitutes tradicionais.

Mesmo que a vibe do dia não seja de fazer compras, vale a pena só passear e parar para comer alguma coisinha típica. Acompanhar o entardecer é altamente recomendável, pois todas as luzes e lanternas se acendem e deixam o bairro ainda mais charmoso.

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Depois do passeio, eu resolvi terminar meu dia com um grand finale. Vi um sento e achei que seria uma boa ideia dar uma relaxada num ofurô quentinho. Já tinha ido a alguns onsen, as águas termais, mas seria a minha primeira vez numa casa pública de banhos.

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Como na entrada tinha um cartaz com explicações em inglês, achei que o sento seria uma atração para turistas. Entrei, comprei uma toalhinha e fui lá me banhar. Para a minha surpresa, as frequentadoras eram todas bem senhorinhas, que se cumprimentavam, dando a impressão de que eram habitués. Algumas me olharam bem discretamente e deviam se perguntar: “quem é essa forasteira?”.

Depois de tomar banho sentada no banquinho, como manda o protocolo, era hora de entrar no ofurô. Eram três opções de banheiras, uma do lado da outra, parecidas com pequenas piscinas adornadas por um grande mural ao fundo. O termômetro marcava a mesma temperatura para as três, um pouco mais de 45 graus. Mergulhei meu pé e, em frações de segundos, meu cérebro processou que seria IMPOSSÍVEL entrar com o corpo todo lá. Como essas mulheres faziam, meu Deus do céu??? Elas batiam papo e pareciam super relaxadas, sem um pingo de incômodo com aquela água no ponto pra cozinhar macarrão. O termômetro estava errado, não era possível! Devia estar beirando o estado de ebulição e eu lá, prestes a me auto-escaldar.

Olhei de novo para as senhorinhas e me mantive firme, não ia desistir. Fui entrando devagarzinho na banheira até que, dormente, meu corpo desistiu de reagir e simplesmente aceitou o fato silenciosamente, com esperanças de que aquilo tudo traria algum benefício.

Resisti o máximo que pude para não fazer feio na minha primeira vez e, como uma lady, saí do caldeirão e tomei uma chuveirada pra me refrescar. Meu corpo estava ridiculamente vermelho, da linha do ombro pra baixo. Não quis ser indiscreta, mas, por curiosidade, dei uma olhadinha nas senhorinhas que saíam do banho e COMO ASSIM elas não ficavam vermelhas?

De qualquer forma, saí de lá mais relaxada – talvez até com a pressão mais baixa. Ri de mim mesma e agradeci mentalmente à Tomoko pelo osusume e por mais uma história pra contar.