É difícil ir para o Japão e não trazer na bagagem de volta pelo menos uma história de atenção e gentileza – principalmente aquelas protagonizadas por pessoas que mal conhecemos. Tem o cara de terno que se desvia do seu caminho habitual para te levar até a entrada da estação, a moça do caixa que pega o celular para localizar o endereço que você está procurando, ou a senhorinha que desenha um mapa num lenço de papel para indicar um restaurante imperdível do bairro.
São essas delicadezas que enchem de significado as minhas andanças numa viagem. E aqui vai uma compilação de alguns pequenos grandes momentos que marcaram a minha última ida ao Japão.
Saquê para um herói
Uma noite saímos pra jantar em Tóquio e meu namorado se encantou com esse copinho pra saquê, ochoko, em japonês. Os kanjis 豪快 (lê-se “gookai”) significam algo como “heróico”, “esplêndido”. Perguntou para o garçom onde ele poderia comprar um desses, mas nos disseram que tinham ganhado de um fabricante de saquê. Já conformado de que não teria um ochoko igual, teve uma surpresa quando estávamos indo embora: junto com a conta, trouxeram um copinho embaladinho, de presente pra ele.
Posso tirar uma foto sua?
Estava com a câmera nas mãos quando um senhor se aproximou e me levou até o lugar “ideal” para fazer uma foto da fachada de uma das art houses de Naoshima, de onde poderia imitar o enquadramento da foto do panfleto oficial. Esse lugar privilegiado era exatamente em frente ao portão da sua casa, onde ele passava boas horas do dia, vendo o movimento de turistas e batendo papo com os funcionários da obra.
Perguntei se eu podia tirar uma foto sua, mas ele disse que não, que tinha vergonha. Para compensar, tomou a câmera das minhas mãos e quis fazer uma foto minha, em frente da art house. Daí eu, muito folgadamente, pedi pra que ele mudasse o enquadramento em direção a essa ruela, mais charmosa que a própria obra.
Tá aí a história da única foto não-selfie em que apareço na viagem de uma semana que fiz sozinha pelo Japão. Se soubesse, teria dado um tapa no look.
Menu completo: entrada, prato principal, sobremesa e carona
Depois de visitar o Enoura Observatory, conhecido como “o museu do Hiroshi Sugimoto”, fomos almoçar no restaurante vizinho, que tinha essa super vista.
Só depois de pegar uma mesa que nos demos conta de que o último ônibus que nos levaria até a estação de trem sairia dali a 7 minutos. Como o caminho a pé pela estrada seria um pouco tortuoso, dissemos para a simpática gerente que infelizmente teríamos que ir embora.
Sem nem pestanejar, ela perguntou: se eu levar vocês depois até a estação, vcs ficariam para almoçar? Depois dessa, não tinha nem como recusar! O almoço estava uma delícia e a sobremesa era simples e delicada, do jeito que eu gosto: pudim de abóbora kabochá acompanhado de frutas deliciosas. Um único gomo de tangerina fazia toda a diferença no sabor. Elogiamos o chef e, no final da refeição, fomos presenteados com uma tangerina do seu pomar.
De avental e tudo, a atendente (ou seria a gerente?), largou o posto, pegou as chaves do carro e lá fomos nós pra estação. De estômago cheio e coração aquecido com tanta gentileza.
E você, tem alguma história para contar? <3
Todas essas histórias foram publicadas no meu Instagram (@peachnojapao). Clica aqui para me acompanhar e não perder a próximas 😉