Por mais difícil e diferente que possa parecer a língua japonesa, quem já esteve no Japão com certeza saiu de lá com uma expressão martelando na cabeça: IRASSHAIMASE! (caixa alta pra reforçar o tom efusivo e às vezes estridente que essa saudação chega aos seus ouvidos). Assim você é recebido toda vez que entra em konbinis (lojas de conveniência), izakayas, restaurantes, lojas de departamento, enfim, estabelecimentos de comércio e serviço em geral.
Irasshaimase significa, de um modo geral, “seja bem-vindo”. Mas tem um detalhe importante: nessa expressão é empregado o sonkeigo, que é a forma honorífica da língua japonesa, na qual o interlocutor é tratado de uma forma extremamente respeituosa, como se estivesse hierarquicamente acima da pessoa que o saúda. O sonkeigo é usado por funcionários para falar com o chefe, por repórteres para entrevistar uma personalidade ou por qualquer mortal para se dirigir ao imperador.
Perguntei a um amigo japonês: o que eu deveria responder assim que ouvisse o tal do irasshaimase?
Ele me disse: nada em especial. Geralmente, os japoneses não dizem nada de volta e fazem, no máximo, um aceno com a cabeça. Dependendo do tipo de estabelecimento, a saudação é tão presente e constante que ecoa de uma forma automática, a cada vez que a porta se abre e o sininho toca pra indicar a presença de um novo cliente. De qualquer forma, se for abordar o atendente para perguntar qualquer coisa, deve-se usar a forma polida da língua, demonstrando respeito a uma pessoa desconhecida, mas sem enaltecê-lo hierarquicamente. Afinal, no Japão, o cliente está acima de tudo.
Na França, as coisas são bem diferentes. Quando fui pra lá pela primeira vez, a turismo, todo mundo me alertava: “eles são grossos se você não fala francês”, “não te atendem se você só falar inglês”. Na época, arranhava só um “excusez-moi”, “merci”, “s’il vous plaît”, “bonjour” e o resto me virava em inglês. Foi tudo tranquilo e não voltei de lá com a imagem de que eles são grosseiros, pelo contrário.
Quando morei um tempinho em Montpellier, perto do Mediterrâneo, percebi que os franceses sempre te recebem com um bonjour (ou bonsoir, dependendo da hora). E que, sim, os clientes respondem de volta, repetindo a mesma saudação, olhando nos olhos de quem os atende. Para dirigir a palavra ao atendente ou, na situação contrária, ao cliente, ambos se tratam pelo pronome “vous”, que implica numa relação respeituosa e sem intimidade. Ou seja, há respeito, mas não há diferenciação no tratamento.
Numa simples saudação entre desconhecidos dá pra perceber, então, valores muito importantes distintos desses dois países. No caso do Japão, o respeito à hierarquia, e, entre os franceses, a igualdade.
Outros textos meus sobre idiomas podem ser conferidos aqui. 😉