Os créditos começaram a subir e as luzes se acenderam, o que me deixou num estado de desorientação completo. Enquanto enxugava as lágrimas, percebi que não estava rodeada por japoneses, mas, em sua maioria, por franceses, já que estava num cinema em Montpellier, a 750 km de Paris. E, por mais estranho que pareça, senti um certo desapontamento por estar morando numa linda cidade no sul da França (!), e não no Japão.
O filme em questão, que estreia nesta semana no Brasil, era “Nossa Irmã Mais Nova” (Umimachi Diary, 2015), de Hirokazu Koreeda, diretor do também comovente “Pais e Filhos” (2013) e do arrebatador “Ninguém Pode Saber” (2004).
A história do filme se passa em Kamakura, cidade litorânea pertinho de Tóquio, e foca na relação entre três irmãs na casa dos 20-30 anos, que passam a conviver com a meia-irmã adolescente após a morte do pai delas.
Muito da cultura japonesa é delicadamente captada: a hierarquia dentro da estrutura familiar, a admiração pelo desabrochar das cerejeiras, a ida ao matsuri (festival tradicional) devidamente vestidas com yukata (o kimono de verão, feito de um tecido leve) e, o que mais me marcou no longa, a relação afetiva que japoneses têm com comida.
Diversos pratos deixam de ser meros objetos de cena para compor personagens, histórias e sensações.
Os japoneses apreciam a culinária de uma forma diferente. E isso já começa no preparo, nos pequenos rituais e tradições que antecedem o ato de cozinhar. Vemos um cuidado também na apresentação, na combinação de cores e texturas e, finalmente, no equilíbrio do sabor do resultado final. Certos pratos são associados a certos eventos e momentos particulares da vida. Achei muito bonito relembrar de tudo isso.
Koreeda conduz cada detalhe da história com atenção, sutileza e sensibilidade, o que, durante duas horas, me fez sentir estar completamente imersa no Japão.