Foram viagens à Índia que inspiraram Mihiro Aoki a resgatar a tradição do kimono e fazer disso uma nova carreira. Com a marca Tsubaki Vintage, a estilista japonesa propõe novos – e maravilhosos – usos para a tradicional vestimenta japonesa, que foi perdendo espaço para a influência ocidental no país, principalmente após a Segunda Guerra Mundial.

Numa entrevista feita por e-mail (não vejo a hora de conhecê-la pessoalmente!), Mihiro me contou que, desde a sua primeira ida ao país, sempre achou fascinante o fato de que as mulheres indianas mantêm no dia-a-dia o uso de vestimentas típicas, como o sari (ou saree). Beleza, elegância, orgulho e sofisticação são coisa que passaram pela sua cabeça ao perceber essa conexão das indianas com suas próprias raízes. Ao se ver de jeans e camiseta, Mihiro pensou em: tédio.

Mihiro Aoki em meio à sua fonte de inspiração: as mulheres indianas (Foto: arquivo pessoal)

Foi aí que decidiu resgatar um dos itens mais preciosos da cultura japonesa: o kimono. Se antes os trajes típicos no Japão eram usados no dia-a-dia por homens e mulheres, hoje vemos seu uso restrito a ocasiões especiais como formaturas, funerais, festividades do calendário japonês e casamentos. E, mesmo nos casórios, é comum a noiva optar por um vestido ocidental no lugar do kimono, que geralmente é passado de mãe para filha.

Em tempos em que fabricantes da vestimenta japonesa andam fechando suas portas, Mihiro decidiu transformar peças antigas, que foram perdendo seu uso, em roupas e acessórios que se encaixam no dia-a-dia atual das mulheres. Kimono é lindo, sem dúvida, mas vamos combinar que vesti-lo não é uma tarefa simples e requer muita habilidade com as amarrações.

A lindeza Mihiro Aoki posa como modelo para as suas criações

Saias da coleção Machigi: feitas à partir de kimonos urbanos

Quem costura todas as peças da Tsubaki Vintage é sua mãe Chiyomi – o que faz da marca ainda mais especial. Mihiro, que antes de abrir seu negócio trabalhava no RH de uma grande empresa japonesa, sabe que senhoras da geração de sua mãe têm muita dificuldade para achar um emprego no Japão pela falta de habilidade com computador. Muitas acabam trabalhando em serviços de limpeza, fábrica ou outras atividades fisicamente desgastantes, principalmente para mulheres de mais idade. A proposta da estilista é de valorizar as habilidades manuais que essas mulheres têm e, para tanto, com o gradual crescimento dos negócios, ela espera poder contratar outras senhoras hábeis na arte da costura.

Mihiro e sua mãe Chiyomi, as mãos hábeis da Tsubaki Vintage

A construção desse modelo de negócio sustentável se baseia num conceito japonês que muito nikkei deve ter ouvido da avó por aí: mottainai. Essa expressão se refere ao lamento dado sobre uma situação de desperdício, seja material ou até mesmo mental/emocional. Pode ser pela comida que sobrou no prato ou pela habilidade de alguém que não está sendo colocada em prática. Uma das missões de Mihiro é essa: evitar o mottainai.

Mihiro aproveita outras partes dos tecidos para revestir bolsas, carteiras e fazer capas de almofada

Para mim, usar uma saia criada por Mihiro é uma forma de carregar a história e valores do país dos meus antepassados onde quer que eu vá – além de me fazer sentir absolutamente linda e poderosa.

Pode ter uma de cada? 🙂

Para quem se interessou, as peças da Tsubaki Vintage podem ser compradas online (https://www.tsubakivintage.com/) e são enviadas para o mundo todo! Aproveitem para babar com as peças da nova coleção, chamada Machigi – feitas a partir de kimonos mais casuais, usados nas cidades.

Mihiro, obrigada por me contar a sua história e pelo privilégio de poder usar uma de suas criações!