Na contramão das tendências mundiais, a indústria musical japonesa – segunda maior do mundo – obtém 75% da sua receita com venda de CDs
Outro dia, postei no Instagram fotos da Tsutaya, uma das maiores redes de lojas de livros, revistas e de serviço de aluguel de CDs e DVDs (isso mesmo, aluguel!) do Japão, e comentei na legenda que os japoneses ainda são muito apegados aos saudosos compact discs. Não é à toa que esse dado tenha surpreendido muitos seguidores (ainda não me segue? entra aqui!) e, por isso, resolvi fazer minha lição de casa e dividir com vocês o que descobri sobre o assunto.
É até compreensível – e celebrada – a existência da Taiyo Record, loja de discos focada num nicho pois vende só álbuns especializados em música brasileira e argentina, e ainda conta com o mestre Itoh-san para orientar os clientes.
Mas como explicar as 6 mil lojas de discos que existem em todo o país (contra 2000 lojas nos EUA e 700 na Alemanha)?
Desde 2015, várias plataformas de streaming de música vêm lançando seus serviços no Japão: Apple Music, Google Play Music, Amazon Prime Music, AWA, Line Music… Line Music? Sim, o “whatsapp japonês” cheio de stickers fofos, líder entre os apps de mensagens, também entrou na disputa por esse mercado, que ficou ainda mais balançado com a chegada do Spotify no final do ano passado. Todo mundo quer uma boquinha da indústria da música no Japão, que gera 3 BILHÕES de dólares por ano, ficando apenas atrás dos Estados Unidos num comparativo global.
Os japoneses até usam esses aplicativos de música, mas só uma minoria passa a assinar os serviços “premium”, ou seja, aqueles que pagamos um pouquinho todo mês para ter acesso às canções sem interrupções de propagandas. No Japão, o valor de assinatura do Spotify, por exemplo, é de 980 ienes/mês (cerca de 9 dólares), um pouco mais caro que os planos do Line.
Representando 8% da receita (em 2016) junto com downloads pagos, os serviços de streaming não conseguem abocanhar a fatia de mercado dominada pelos CDs – aquela mídia que se tornou obsoleta para a gente há muito tempo e que os pós-millennials nem devem saber o que é. Por que será? Peach explica! 😉
1. Catálogo reduzido de artistas japoneses
Os japoneses consomem enormemente música japonesa. Se esses serviços entram no mercado sem oferecer uma grande variedade de bandas nipônicas, dificilmente conquistarão o coração dos locais. O Spotify, por exemplo, foi lançado sem acervo de músicas do fenômeno pop AKB48 – banda com não-sei-quantas meninas fofinhas, que cantam, dançam e sensualizam em clipes vestidas com uniforme escolar (será que foi uma questão de gosto? rs).
Uma das explicações para a dificuldade na liberação de artistas japoneses é falta de controle completo por parte das gravadoras como Sony e Universal sobre o direito das músicas. Parte dos direitos fica na mão de outras empresas, o que torna a negociação muito mais truncada.
2. Japoneses amam mídias físicas e são grandes colecionadores
Devo dizer que eu também amava e que ainda me sinto meio perdida nessa história de streaming. Eu adorava comprar CDs, chegar em casa, abrir o encarte (era uma decepção horrorosa quando vinha sem letras) e ver todos os detalhes da arte e fotinhos da banda. Sempre prestava atenção também no design do próprio CD e no acabamento da caixinha. Organizava tudo alfabeticamente (virginiana alert) e ficava orgulhosa da minha pequena coleção conquistada pouco a pouco, desde os meus 11, 12 anos, que contava até com singles importados!
Os japoneses vão além disso. Eles curtem as edições especiais, que são lançadas com uma embalagem bonitona, compilações de lados B, coletâneas com os melhores hits (as gravadoras se esbaldam!), etc, e compram também muitos artigos de merchandising relacionados ao artista. A estratégia do AKB48, por exemplo, é de lançar várias capas para o mesmo disco, com pôsteres de diferentes meninas. Quem é fã, vai querer levar pra casa mais de um.
3. Youtube é usado como player de música
Bom, isso não é exclusivo do Japão, mas o que acontece é que os CDs são artigos comprados, geralmente, por um público que tem mais din din no bolso. Diferente do que pode parecer, os CDs não são baratos: custam em média 2500 ienes (22 dólares). A molecada, então, se vira com o que tem. O Youtube, apesar de ser uma plataforma de vídeos, é bastante bastante usado para curtir música.
O que será que vai acontecer com a indústria da música no Japão dentro de alguns anos? Será que vão se render à praticidade dos players digitais? Vamos acompanhar…
Para quem curte música, tecnologia e Japão (como eu), talvez se interesse em ler este artigo, este, este, este ou este – todos usados como fontes para esse post.
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