Desde outubro de 2023, depois de um aumento substancial de preços, muita gente se pergunta se ainda vale a pena investir no JR Pass, o popular passe de trens do Japão que cobre também viagens de shinkansen, os famosos trens-bala. Só para vocês terem uma ideia, o passe de 7 dias, que antes custava ¥29.650 (cerca de USD 200), agora vale ¥50.000 (quase USD 350). 

Neste post, dou dicas de como tomar a decisão de usar o passe ou não e também esclareço dúvidas comuns que surgem sobre o assunto.

Para começo de conversa… o que é o JR Pass?

O JR Pass é um passe promocional voltado a turistas que possibilita viagens ilimitadas de trem, incluindo trens-bala (shinkansen), ônibus locais e outros sistemas de transportes operados pela JR – Japan Railways, durante um período de 7, 14 ou 21 dias.

Cara de alegria de quem viaja na janelinha 🙂

Quem pode usá-lo?

Somente estrangeiros que vão ao Japão como “temporary visitors”, ou seja, como turistas. Japoneses só podem fazer uso do passe se comprovarem que residem no exterior há pelo menos 10 anos.

Quanto custa o passe agora, depois do aumento de outubro de 2023?

  • JR Pass 7 dias: ¥50.000 (ordinary) | ¥70.000 (green)
  • JR Pass 14 dias: ¥80.000 (ordinary) | ¥110.000 (green)
  • JR Pass 21 dias: ¥100.000 (ordinary) | ¥140.000 (green)

Obs: para crianças de 6 a 11 anos, há um desconto de 50%. Crianças de até 5 anos são isentas de cobrança se não ocuparem nenhum assento. As regras em detalhes podem ser conferidas aqui.

E afinal: vale a pena comprar o JR Pass?

É difícil responder categoricamente se vale ou não vale pagar esses valores porque vai depender de cada caso. Mas, já adiantando, na maior parte dos roteiros que eu crio e analiso na consultoria, acaba saindo mais vantajoso comprar separadamente os bilhetes. 

Vamos ver um exemplo?

  • Tóquio >> Kyoto
  • Kyoto >> Hiroshima
  • Hiroshima >> Osaka
  • Osaka >> Tóquio

Se todos esses deslocamentos forem feitos no intervalo de uma semana, o valor dos bilhetes avulsos vai ser praticamente o preço do passe, em torno de ¥50.000. A vantagem de comprar tudo avulso nessa rota é poder usar o trem Nozomi, que chega mais rápido, parando em menos estações no meio do caminho.

Nozomi e Mizuho: estão inclusos no novo JR Pass?

O Nozomi e Mizuho são shinkansen que fazem, respectivamente, as rotas Tokaido (de Tóquio a Osaka) e Sanyo (de Osaka a Fukuoka) de forma mais rápida porque fazem menos paradas ao longo do trajeto.

Com o novo JR Pass, agora é possível embarcar tanto no Nozomi quanto no Mizuho, mas é necessário pagar uma taxa extra. Falando do trajeto Tóquio – Kyoto, por exemplo, para embarcar no Nozomi e poupar 40 minutos do seu tempo é necessário pagar ¥4.960 a mais, além do valor do passe em si. Se quiserem conferir outras tarifas extras, dá para ver neste site.

Como posso calcular se o JR Pass vale a pena ou não?

Primeiro é importante entender como chegar nas cidades do seu roteiro, já que nem sempre vai ser possível chegar de shinkansen nos lugares. Dependendo de onde você for, será necessário pegar trens ou ônibus operados por companhias diferentes da JR.

A minha dica é pesquisar os acessos de cada cidade do seu roteiro no Japan Guide e fazer pesquisas de rotas no app Japan Travel by Navitime, um sistema abastecido com os horários e itinerários de todas as companhias de trens do Japão. Se aparecerem muitas baldeações e se o trajeto for muuuito longo, é bom considerar outras alternativas.

Uma vez que você já tem em mãos quais são os trechos que serão feitos com trens da JR, principalmente os que serão feitos de shinkansen (que são os mais caros), um jeito prático de calcular é usando o Japan Rail Pass Calculator, uma ferramenta do Japan Guide.

O JR Pass vale só para trens-bala?

Não. O passe também pode ser usado nas linhas de trens locais, ônibus locais e na balsa de Miyajima – todos operados pela companhia JR. Mas tenham em mente que esses deslocamentos menores são bem mais baratos que um trecho de shinkansen, então não vai valer pegar um passe de maior duração só para cobrir deslocamentos internos em Tóquio, por exemplo!

Olha ele aí! Esse é apenas um dos diversos modelos de trens-bala do Japão

Onde comprar o JR Pass?

Em agências autorizadas

É importante comprar o passe ainda fora do Japão, com antecedência, em agências autorizadas. A minha indicação é a agência WTB, falando com a Hiromi Kawasaki, uma expert em viagens pelo Japão que cuida há muitos anos dos meus clientes. A Hiromi pode te ajudar também com reservas, transfers, ingressos, soluções de internet e outros serviços. O contato dela é: hiromi_kawasaki @ wtb.tur.br (desconsiderem os espaços!). Ah, e se falarem que viram a indicação aqui no blog, ela consegue dar descontos em alguns dos serviços! 🙂 

Pelo site

Outra forma é comprando online. De toda forma, a validação do passe tem que ser feita de forma presencial, em algum balcão de atendimento da JR no Japão.

Comprei o passe. E agora?

Ao realizar a compra, você recebe um voucher (exchange order) – não é o JR Pass em si. O voucher deve ser trocado no Japão pelo passe, em um posto designado da JR. Não esqueçam o voucher em casa, pelamor! Sem ele, não é possível efetuar a troca.

Onde troco o voucher pelo JR Pass?

Em Tóquio, a troca pode ser feita nos balcões da JR de atendimento a turistas chamados de JR Travel Service Center, presentes nas seguintes estações da JR: Tokyo, Ueno, Shibuya, Shinjuku, Shinagawa e Ikebukuro. Ou mesmo nos guichês da companhia no Aeroporto de Narita ou Haneda, logo que você desembarcar. Veja lista completa de pontos de troca aqui. Isso pode ser feito logo antes da primeira viagem com o passe ou com antecedência – o que é bastante recomendável. É preciso apresentar o passaporte e informar o funcionário qual será a data de início de uso do passe.

É necessário reservar assento nos trens-bala?

Em sua grande maioria, os shinkansen possuem vagões com assentos reservados e não-reservados. Nesse caso, não é obrigatório reservar – basta entrar em um dos vagões de assentos livres. Já viajei uma vez dessa forma e foi tranquilo. Só que, dependendo da época e do horário, pode acontecer do trem estar lotado e de não ter nenhum assento livre – imagina passar 3 horas de viagem em pé? 

Outra questão é que existem alguns poucos trens que possuem APENAS assentos reservados. Isso eu descobri quando fui pegar o trem-bala de Tóquio a Kanazawa e não encontrava de jeito nenhum as marcações na plataforma que indicavam os vagões de assentos livres. Levei um tempo para descobrir que não poderia embarcar sem o bilhete com assento demarcado, então fui correndo para o guichê para conseguir um. Por sorte, tinha chegado na estação com uma certa antecedência, senão teria perdido o trem e teria que ficar esperando uma hora pelo trem seguinte. Depois desse mini-susto, agora só viajo com assento reservado!

Como fazer as reservas de assento de trem-bala?

Tendo o JR Pass, não é preciso pagar nenhuma taxa extra para reservar os assentos. Nas bilheterias das estações JR (ticket office) é possível emitir com antecedência as reservas da sua viagem, já no momento da troca do voucher. Basta informar seu itinerário ao funcionário e escolher o horário do trem. Ou, se quiser ir com tudo pronto, é possível consultar a programação de trens pelo app Japan Travel by Navi e chegar na bilheteria com tudo mais certinho. Se tiver muita fila no guichê, é comum limitarem a emissão de reservas para apenas 1 trecho da viagem por passageiso, o que significa que não vai ser possível emitir todas as reservas de uma só vez.

Reservei assento e perdi o trem. E agora?

Você não será penalizado, mas aquele assento não ficará disponível para ninguém já que no sistema consta que ele estará ocupado. Então, se mudar de ideia antes de embarcar, seja legal e avise um guichê da JR.

Como usar o JR Pass?

Na área das catracas de acesso à plataforma, basta inserir o passe na catraca, sem esquecer de pegá-lo de volta assim que ele é processado. Aliás, guarde o passe como uma joia! Se eventualmente perder esse papelzinho, não vai ser possível emitir outro.

Os bilhetes emitidos na hora da reserva de assento servirão para verificar o número do trem, do vagão (“car”), de assento (“seat”) e do horário de partida e chegada no destino. Os tíquetes deverão ser guardados e apresentados caso apareça um fiscal dentro do trem. 

Para saber de qual plataforma parte o seu trem, localize nos painéis eletrônicos próximos às catracas o nome e número do trem (ex. Hikari 42), confirmando sempre com o horário de partida, que deve ser exatamente o que consta no seu bilhete. Já na plataforma, alertas sonoros e os painéis eletrônicos informam sobre a chegada dos trens. O trem parte pontualmente no horário marcado, então ele chega uns minutinhos antes na plataforma, que é o tempo do pessoal embarcar (ou descer, se for o caso).

Nas estações da JR, inserimos o JR Pass na catraca para termos acesso às plataformas

Como os dias de uso são contados?

O horário da partida não é levado em consideração para calcular a data de validade do passe. Ou seja, se você pretende começar a usá-lo no dia 10, você poderá usá-lo até a meia-noite do dia 16 (7 dias corridos, considerando o JR Pass de 7 dias), independente do horário que você tomou o primeiro trem. O melhor, portanto, é começar a sua viagem de manhã cedo, para poder aproveitar ao máximo.

Green car x ordinary car

Os shinkansen possuem essas duas categorias de vagões e, por isso, temos o JR Pass comum (ordinary) e o Green. O Green Car oferece mais espaço para as pernas, as poltronas são mais confortáveis, tem tomada para cada assento e o serviço de bordo é mais bacana. Mas, sinceramente, viajar de ordinary car já é uma super experiência! Estão sempre limpíssimos e suas poltronas são muito mais confortáveis que as de avião. Alguns modelos de trens têm tanto espaço que é possível deixar a mala na frente das pernas, encostada na poltrona da frente (ok, eu sou petite, mas mesmo assim é confortável).

Interior de um trem-bala no vagão comum

Ufa! Depois desse textão, espero ter ajudado vocês 🙂


E, se você estiver planejando sua viagem ao Japão, que tal dar uma olhada no meu serviço de consultoria? Posse te ajudar nos preparativos! 😉