Naoshima, Teshima e Inujima: como explorar as ilhas de arte contemporânea do Japão

Café Konichiwa: uma das fofuras que encontramos em Honmura, Naoshima

Tento não repetir destinos sempre que planejo uma nova viagem pelo Japão. Só que com Naoshima foi impossível. Depois da minha primeira visita à ilha, em 2013, retornei quatro anos mais tarde e aproveitei para conhecer suas ilhotas-irmãs: Teshima e Inujima.

Naoshima e cia. se transformaram em fenômenos turísticos graças ao investimento pesado em arte e arquitetura contemporâneade feito por um empresário japonês. Soichiro Fukutake, dono da rede de escolas Berlitz, entre outros negócios, tinha em mente alavancar a economia local e dar vida às ilhas, que, assim como boa parte do Japão, enfrentam o envelhecimento e declínio da população. O grande truque foi convidar pesos-pesadíssimos para compor seu quadro de atrações.

Vista deslumbrante do Mar Interior de Seto

Imagina você lá, passeando por essas ilhas de difícil acesso, com uma vista incrível para o Mar Interior de Seto, quando, do nada, avista uma intrigante casinha de paredes escuras que destoa do restante das casinhas de madeira da região. Essa construção, projetada por ninguém menos que Tadao Ando, também conhecido como um-dos-maiores-arquitetos-japoneses-de-todos-os-tempos, abriga uma obra-instalação-experiência de autoria do norte-americano James Turrell, um mestre no que diz respeito à relação de luzes e espaço. Além de obras de Ando e Turrell, esbarramos em trabalhos de Hiroshi Sugimoto, Yayoi Kusama, Rei Naito, Ryue Nishizawa (SANAA), Christian Boltanski, Claude Monet (ok, ele não é contemporâneo, mas MONET é MONET) – só para citar alguns.

O requinte artístico/sensorial que você vivencia nessa casinha ou em outras instalações contrasta com os modestos cafés que acolhem visitantes em cadeiras de praia e com as vendinhas apertadas onde encontramos pacotes de salgadinhos empilhados dentro de caixas de papelão, apoiadas no chão. E isso é maravilhoso.

Honmura, em Naoshima: dá pra ser mais charmoso?

Senhora que abriu um restaurante nos fundos de sua casa para atender o movimento de turistas em Teshima

É por isso que não canso de falar desses destinos. E aqui vou falar mais um pouquinho! Compilei a seguir algumas informações básicas para checar antes de visitar as ilhas de arte, mas, de qualquer forma, acho indispensável uma pesquisa no site da organização Benesse.

Como chegar nas ilhas?

A rota mais comum é indo de trem-bala até a estação de Okayama e, de lá, pegar um trem local até a estação de Uno, que fica a 5 minutos a pé do porto de mesmo nome, de onde saem as balsas para Naoshima e Teshima. Os bilhetes para as balsas podem ser comprados na hora. Dependendo do horário, o trajeto leva em torno de 25 a 40 minutos. Só para termos uma ideia, pegando um trem-bala da estação de Kyoto às 8h da manhã, desembarcamos em Naoshima às 11h20. Dependendo de onde você estiver, é interessante considerar a rota a partir dos outros portos que dão acesso às ilhas: Hoden e Takamatsu. As informações detalhadas como horários das balsas, preço dos bilhetes, duração da viagem, etc, você encontra aqui. Para ver os horários de trem, recomendo conferir no Hyperdia.

Quanto tempo devo reservar para visitar Naoshima? Dá para fazer Teshima numa manhã?

Para ver as principais atrações, é bom ter pelo menos um dia inteiro em Naoshima. Nessa sugestão do site Benesse, que organiza todas as atividades das ilhas, é possível fazer quase tudo se chegarmos por volta das 10h, que é o horário de abertura da maioria das galerias e instalações. Nesse roteiro, só ficou de fora o Ando Museum, ao qual eu ainda devo uma visita – quem sabe na minha terceira visita à ilha? 🙂

Teshima, apesar de ser menos conhecida, também tem muitas atrações. Em um dia inteiro que passei lá, não tive tempo de ver todas as obras. Temos que considerar a distância entre cada uma e tentar otimizar o passeio, já que a maioria fecha cedo – entre 16h e 16h30.

Inujima é menorzinha e é possível conhecer tudo em uma manhã ou uma tarde.

Inujima Art House Project: as obras se mesclam com as casas de moradores locais

Onde dormir em Naoshima? 

Das três ilhas do complexo Benesse, Naoshima é a que tem mais infra-estrutura em termos de acomodação. É possível ficar em um dos hotéis projetados por Tadao Ando (reservas aqui, a partir de 300 dólares por noite), em pousadas instaladas em casas tradicionais operadas por locais, em dormitórios ou em apartamentos privativos. Nesses casos, a pesquisa pode ser feita no Booking ou no site oficial de turismo da ilha.

Naoshima pode ser dividida em três áreas: Miyanoura, onde está o porto principal, Honmura, onde está o porto secundário, e a área Benesse, onde estão concentrados os hotéis e museus desenhados pelo premiado arquiteto. Hospedar-se em um desses hotéis de luxo é uma experiência que vale super a pena. Além de desfrutar de instalações maravilhosas, os hóspedes têm algumas regalias, como acesso a áreas restritas do complexo e a um serviço exclusivo de shuttle que percorre as principais atrações do entorno. O jantar no estilo kaiseki do restaurante Issen, que fica no Benesse House Museum, é de chorar de lindo e saboroso.

Mas, na falta de disponibilidade de quartos (ou de $$$ rs), as pousadas de estilo japonês, chamadas de minshuku, podem ser uma ótima saída. Custam em torno de 40 a 50 dólares por noite, por pessoa, e se concentram em Miyanoura e em Honmura. Entre as duas áreas, prefiro a última: mais charmosa, com opções de cafés, além de ser a região do Art House Project.

Onde dormir em Teshima?

Em Teshima, a oferta de acomodação é mais restrita. Mas, se a ideia é de explorar a ilha com mais tempo, recomendo passar uma noite lá. Tive um dia inteiro por lá, mas mesmo assim não consegui visitar todas as atrações – isso, claro, fazendo num ritmo mais tranquilo, passando o tempo necessário que cada obra merecia. Como no Booking quase não existem opções, o caminho mais indicado é pesquisando pelo site de turismo da ilha.

Teshima way of life <3

Como se deslocar pelas ilhas?

Logo que desembarcamos nas ilhas, é bom ir até o centro de informações turísticas para pegar o mapa da área. Tendo o mapinha em mãos, você terá acesso fácil a todas as informações necessárias para se virar: onde estão as atrações, horários de saídas dos ônibus, quanto tempo leva para ir a pé de um ponto a outro, onde parar para comer ou tomar um café… Os japoneses são mestre nos preparativos e você não se sentirá desamparado!

Tanto em Naoshima quanto em Teshima, é possível circular com a linha de ônibus local ou de bicicleta. Se for de bike, pegar um modelo elétrico não é má ideia já que as ilhas têm umas subidinhas tensas para os menos preparados – eu, no caso. Além dessas opções, pela área do complexo Benesse em Naoshima, circula um serviço de shuttle que complementa o trajeto do ônibus.

Já em Inujima, é possível fazer tudo a pé.

Para ir de uma ilha a outra, balsas saem em horários fixos ao longo do dia. Consulte os itinerários e preços aqui.

“Haisha”, de Shinro Ohtake, que faz parte do Art House Project, em Naoshima

Quando é a melhor época para visitar as ilhas?

As atrações ficam abertas durante todo o ano, mas é preciso prestar atenção em algumas questões:

Dias de fechamento das atrações
– Naoshima: fecham às segundas
– Teshima: fecham às terças (e também às quartas nos meses de dezembro, janeiro e fevereiro)
– Inujima: fecham às terças (e também às quartas e quintas nos meses de dezembro, janeiro e fevereiro)

Golden Week
É bom evitar qualquer viagem pelo Japão na semana que vai do final de abril a começo de maio por causa do feriadão da Golden Week, quando todo mundo no país todo tira uns dias para viajar e turistar. Os transportes, atrações e acomodações ficam lotados – EVITEM!

Fechamento para manutenção das obras
Em algumas épocas, é normal se deparar com obras fechadas por conta de manutenção. Por isso, é sempre bom dar uma checada no site do Benesse para saber se a atração que você quer visitar vai estar aberta.

Quais são as atrações imperdíveis de Naoshima, Teshima e Inujima?

Acho que essa pergunta é bastante delicada, pois acredito que cada pessoa cria uma relação única com arte. Eu, particularmente, não me emociono com as abóboras gigantes da Yayoi Kusama que viraram marcos de Naoshima (se quiser conhecer mais a fundo a obra da artista, recomendo uma visita ao museu de Matsumoto, sua cidade de origem), mas guardo com muito carinho na memória a experiência de ter visitado Les Archives du Coeur, uma obra-instalação do francês Christian Boltanski, que fica numa área onde o ônibus não chega em Teshima.

O ideal, claro, seria ter tempo para visitar todas as obras, mas como tempo é algo valiosíssimo e escasso quando falamos de uma viagem ao Japão, aqui vão algumas dicas:

Naoshima: Chichu Art Museum (é preciso comprar ingressos com antecedência aqui), Minami Dera e as casinhas de Honmura
Teshima: Teshima Art Museum, Les Archives du Coeur e o café Teshima no Mado
Inujima: Inujima Seirensho Art Museum, o ginger ale e o arroz de polvo do Inujima Ticket Center Cafe

Café do museu de Inujima: um arroz de polvo e um ginger ale que nunca vou esquecer!

Se ainda tiver dúvidas para planejar sua viagem depois dessas dicas, que tal dar uma conferida no meu serviço de consultoria de viagem ao Japão? Ajudo com roteiro, orientações práticas e culturais 😉

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