Quando pensamos em cores do Japão, é inevitável pensar no vermelho marcante da bandeira do país. Mas é o azul índigo que rouba a cena quando estamos por lá: seja nas cortinas que nos saúdam nas fachadas dos estabelecimentos ou na icônica Tokyo Skytree, as cores e tons que derivam do “ai”, o índigo japonês, aparecem por toda a parte – até mesmo no uniforme dos “Samurai Blue”, como é carinhosamente chamada a seleção japonesa de futebol.

O azul também está no noren, a cortina que recebe os visitantes de um estabelecimento japonês (Foto: Rosewoman / CC)

A cor da Tokyo Skytree foi baseada no tom mais claro de aizomê

Os Samurai Blue, que arrasaram na última Copa, usam uniforme “kachi-iro” (“cor da vitória”), um dos azuis mais escuros obtidos no processo de aizomê

Assim como outras artes manuais japonesas, o aizomê, técnica de tingimento feito a partir do corante extraído da planta de índigo, é uma arte que requer muito treino, tempo e habilidade. Essa técnica se popularizou durante o Período Edo, principalmente entre os samurais, que usavam os tecidos tingidos pelo índigo japonês por baixo da armadura por conta de suas propriedades antibactericidas. Como se não bastasse, os lindos panos azuis repelem o mau cheiro e são resistentes ao fogo. Incrível, né?

A convite do meu querido amigo Mizuaki Wakahara, o fotógrafo que sempre me leva para os rolês mais incríveis no Japão, pude conhecer o processo de obtenção desse azul profundo. Ao sul de Tóquio, em Kanazawa, o Dentou-Kougeikan oferece workshops da tradicional arte de tingimento. Lá, as folhas da planta de índigo passam pelo processo de fermentação – o que lembra muito o processo de fabricação do shoyu e do saquê.

Detalhe do tanque onde as folhas de “ai” são fermentadas

Os visitantes têm a oportunidade de tingir peças próprias ou podem participar da experiência treinando com um lenço tipo bandana. Como não tinha levado nenhuma roupa minha – do que me arrependi profundamente depois – arregacei as mangas e ajudei a tingir uma das camisas que o Mizuaki tinha levado.

Antes…

…durante…

…e depois! Mizuaki Wakahara com suas novas camisas 🙂

Um ponto importante na hora de mergulhar o tecido no corante natural é evitar a formação de bolhas, o que pode deixar o tingimento desigual em algumas partes. Para quem já dominou essa etapa, uma ideia é tentar criar estampas com amarrações ou com costura.

A graça do tingimento com o índigo do Japão não termina aí: segundo a senhora que nos conduziu nessa experiência, o melhor é poder apreciar a variação de tonalidade que a peça vai sofrendo pouco a pouco, com o uso e com as lavagens. Tem coisas que só tendem a melhorar com o tempo.

A senhora que nos ensinou a técnica de tingimento mostra as plantas de índigo japonês

O workshop de aizomê é oferecido para turistas e é um super programa para quem está em Töquio

Vai lá!

Workshop de aizomê nos arredores de Tóquio
Onde: Dentou-Kougeikan, Kanagawa
Informações e reserva: http://english.nihonminkaen.jp/visual_visit/dentou-kougeikan/