Não contem para a primavera, mas o outono é minha estação preferida no Japão. Assim como na época das cerejeiras em flor, o outono faz os japoneses saírem de suas casas para apreciar essa transformação da natureza. Dessa vez, a grande atração são as folhagens que se tornam avermelhadas, amareladas e alaranjadas, criando uma paleta de cores absurdamente deslumbrante.

Na estrada, pertinho das cataratas de Ryuzu, na região de Okunikko, em Nikko

Passar os meses de setembro, outubro e novembro no país é animador pois as chances de ver esse fenômeno são bem altas. Só não diria que são certeiras pois é preciso estar no lugar certo, na hora certa. O koyo, como é chamado em japonês, começa nas regiões mais frias e elevadas e vai descendo pelo resto do país. Em outras palavras, no final de setembro podemos ver as folhagens coloridas em Hokkaido, a ilha do norte, mas se a ideia for de viajar na segunda quinzena de novembro, o ideal é ir para Kyoto, por exemplo. Seu auge dura de duas semanas a até cerca de um mês, dependendo da região.

Com dois dias livres em meados de outubro, consultei o Japan Guide para checar onde poderia ver as cores de outono, já que quando elas chegassem em Tóquio, no mês seguinte, eu já não estaria mais por lá. O mais certeiro seria ir para Hakodate, em Hokkaido, mas com tão pouco tempo para explorar a ilha onde ainda não estive, preferi ir para um lugar mais perto e deixar esse pedacinho do Japão – que estou louca pra conhecer – para uma próxima oportunidade. Acabei optando por Nikko e não me arrependi.

Okunikko, que significa algo como “parte dos fundos de Nikko”, é uma área mais elevada da cidade da provínvia de Tochigi, onde o koyo dá as caras relativamente cedo apesar da pouca distância com Tóquio – cerca de 120 km. Foi a primeira vez que visitei a região e fiz questão de ficar perto do lago Chuzenji ou Chuzenji-ko, em japonês (“ko” é a leitura do kanji de lago), que está a 1269m de altitude.

Naquela semana chovia loucamente em Tóquio e em toda a região mas, justamente nesses dois dias de viagem, São Pedro parece que entendeu que seria a minha única chance de ver as cores de outono nesse ano e fez a chuva dar uma trégua. Esse vídeo curtinho dá uma ideia do visual!

Passeei pelo lago, conheci as cataratas de Kengo, comi um mochi (bolinho de arroz com de consistência “puxa-puxa”) com pasta de feijão azuki sentada num café com vista para as cataratas de Ryuzu, vi folhas de momiji vermelhas da janela da pousada, mas o que mais me encantou foi fazer a trilha que cruza Senjogahara, área pantanosa que, durante o outono, fica coberta por uma vegetação amarelada.

Trilha pela área de Senjogahara

Por ser um terreno alagadiço, a trilha é feita confortavelmente sobre uma plataforma elevada de madeira (ah, esses japoneses… sempre pensando em conveniência <3). A caminhada entre as cataratas de Ryuzu ao Yumoto Onsen leva umas duas horas e meia, mas no modo sem pressa pode levar muito mais já que a vontade de curtir a paisagem se torna inevitável. Além do visual ser maravilhoso, com o amarelo da grama combinando com o amarelo das folhas das árvores, foi divertido cruzar com uma infinidade de grupos de excursões de idosos e crianças.

Esperando todo mundo passar pra tirar foto 😛

Nessa horas, é bom deixar um belo konnichiwa na ponta da língua, já que todos, até os pequenos, saúdam quem quer que seja que cruze o caminho no sentido oposto. Quer dizer, para mim diziam o “boa tarde” em japonês, mas para o meu namorado – que fala o idioma melhor que eu – diziam hello com aquele sotaque característico, trocando o som de L por R. Ele, num incômodo bobo que me fez rir, os saudava na sua língua nativa: bonjour.

Infelizmente não tivemos tempo de ir até o onsen, pois corríamos o risco de perder o trem de volta para Tóquio. Terminamos a trilha nas cataratas de Yudaki e comi um belo teishoku de tendon (tempurá sobre gohan) para repor as energias.

Tendon e sopa tonjiru: meu namorado nunca invejou tanto minha escolha gastronômica

Não cheguei a ver o melhor momento do koyo, já que ainda era um pouco cedo no entorno no lago e já tinha passado um cadinho na região das cataratas de Ryuzu e Yudaki. Mas nem liguei muito. Nikko é linda de todo jeito.

Avenida principal, de frente para o lago: restaurantes e opções de hospedagem

Como chegar em Okunikko / Transporte

Comprei o Tobu Nikko All Area Pass por 4520 ienes e paguei mais uma taxa de 2160 ienes para ir de limited express train Spacia. Com esse trem, a viagem até a estação Tobu Nikko leva umas 2 horas, uma hora a menos do que indo com trens locais. Esse passe é válido por 4 dias consecutivos e inclui a viagem de ida e volta saindo da estação Tobu de Asakusa, em Tóquio, e viagens ilimitadas com os ônibus locais em Nikko. Se você vai só explorar o entorno da estação ou os parques temáticos de Nikko, a Tobu oferece outras opções de passe.

Para chegar em Okunikko, pegamos um ônibus local saindo da estação de trem de Tobu Nikko. Ao comprar o passe, recebemos uma tabela com o itinerário desses ônibus que circulam pela região. É bom ficar de olho nos horários pois eles não são muito frequentes. No auge do koyo, tendem a ficar beeem cheios, então preparem na mala boas doses de paciência e bom humor 🙂

Hospedagem

Em volta do lago Chuzenji, existem várias opções de acomodação. Ficamos uma noite no Little Forest Inn: bem localizado, simples, confortável e com um bom custo-benefício (12 mil ienes/noite/casal). Dica: reserve com pelo menos um mês de antecedência, principalmente durante o outono.

Alimentação

Em pontos de visitação como as cataratas Kegon, Ryuzu e Yudaki tem áreas de descanso, com restaurantes que servem comidas típicas: soba, mochi, tendon, udon, karê, etc. Perto do lago, na avenida principal, tem opções de restaurantes com menus variados. Mas cuidado com o horário na hora do jantar: a maioria dos lugares fecha cedo. Saímos do hotel umas 21h e, por sorte, ainda tinha UM restaurante aberto.