Em complexo artístico recém-inaugurado, um dos maiores artistas do Japão propõe momentos de reflexão e contemplação da natureza

No meio de uma conversa sobre Naoshima, a ilha de arte do Japão, Mizuaki cochicha no ouvido de sua esposa e, depois de obter um aceno positivo, anuncia: “Piti, vamos te dar nossos ingressos para ir ao museu do Hiroshi Sugimoto que vai ser aberto em Odawara. Não queremos que você vá embora do Japão sem antes conhecer esse lugar”. Assim surgiu a oportunidade mágica de conhecer o Enoura Observatory (江之浦測候所) no dia da sua inauguração.

Conhecido principalmente como fotógrafo, o artista também tem trabalhos maravilhosos como arquiteto. O próprio observatório de Odawara, informalmente conhecido como “o museu de Hiroshi Sugimoto”, foi inteiramente desenhado por ele.

Enoura Observatory: projeto de Hiroshi Sugimoto / Foto: Piti Koshimura

Com o espaço que inclui galeria de arte, jardins, toriis, palcos, casa de chá e mirantes deslumbrantes com vista para o Pacífico, Sugimoto propõe lugares de reflexão, de envolvimento com a natureza e um “retorno à fonte da consciência humana e um traço do caminho que ela tem tomado até o momento”.

Odawara, cidade da província de Kanagawa, a cerca de 70km ao sul de Tóquio, é particularmente especial para o artista porque o remete à sua memória de infância mais antiga, quando avistou da janela do trem a imensidão do oceano Pacífico, definindo o horizonte como uma linha bem precisa. Nesse momento, se deu conta da sua existência como indivíduo.

Cada mirante do observatório foi concebido para que os visitantes possam contemplar a beleza da região e a transição dos fenômenos da natureza. O mapa do local sinaliza os pontos exatos do complexo onde o nascer do sol pode ser avistado nos solstícios de inverno e de verão, e também nos equinócios de outono e primavera. Cada estrutura do complexo foi desenhada com base em técnicas e estilos japoneses, o que se torna uma verdadeira aula para amantes de arquitetura.

Palco de vidro óptico que reflete a luz do sol, construído sobre a tradicional estrutura “kakezukuri” / Foto: Piti Koshimura

 

Túnel dedicado ao solstício de inverno / Foto: Piti Koshimura

Num ambiente lindo e calmo como esse, como comunicar a proibição de avançar após certos pontos por causa do risco de queda? Os japoneses têm diversas formas para dizer “não” – não é permitido, não está aberto, não pode, não gosto – sem efetivamente dizer “não” (tema para um post futuro). E para alertar os visitantes de que não poderiam ultrapassar certos limites, Hiroshi Sugimoto criou esse lindo “aviso”: uma pedra envolta por uma corda, apenas. E isso basta.

A pedra que sinaliza “não ultrapasse”: tem aviso mais charmoso do que esse? / Foto: Piti Koshimura

Além de valorizar a estética minimalista, o observatório faz a gente refletir sobre a impermanência e a transitoriedade do tempo. Tenho vontade de voltar ao espaço pois sei que vou ter uma nova experiência, já que tudo vai ter mudado. Pode ser que pegue um céu nublado, pode ser que pegue chuva, pode ser que calhe junto com o pôr do sol, pode ser que o mar esteja mais agitado ou que a luz do sol brilhe com menos intensidade sobre o palco de vidro. Pode ser que eu vá sozinha na próxima vez e que talvez tenha menos visitantes se misturando à paisagem. Só sei que a minha visita foi um ichi-go-ichi-e com o mar de Odawara, esse que ficou cravado na memória do menino Hiroshi Sugimoto.

Os ingressos devem ser comprados com antecedência pelo site. Mais informações aqui.

<3 Yuka, Mizuaki: チケット本当にありがとうございました!<3