Feche os olhos e imagine uma escolinha infantil. Quais são as coisas que vêm à cabeça em primeiro lugar? Paredes coloridas, objetos de plástico, móveis com acabamento arredondado – ok, talvez você não tenha tido tempo para pensar no detalhe do acabamento dos móveis, mas tenho certeza que você imaginou algo muito diferente disso:
Ou disso:
Os dois são projetos do escritório japonês Youji no Shiro, especializado em arquitetura de espaços para crianças, que eu descobri por acaso no Instagram. No lugar de cadeirinhas coloridas e personagens infantis nas paredes, linhas retas, ambientes clean, muita madeira, decoração minimalista, conduites expostos, janelões de vidro, entrada de luz natural e grandes áreas verdes – em outras palavras, minha casa dos sonhos.
Por trás desses conceitos “adultos” aplicados em ambientes infantis, os arquitetos do escritório defendem pontos de vista bastante interessantes – e, talvez, polêmicos. Eles são contra, por exemplo, pensar excessivamente na segurança das crianças pois acham que é com tombos e machucadinhos que elas vão aprender a ser mais cautelosas e a lidar com os obstáculos do mundo externo. Além disso, defendem que nenhum outro lugar fora da escolinha será à prova de riscos e que o excesso de zelo pode prejudicar o desenvolvimento dos pequenos.
Outra demanda comum entre seus clientes é o uso de materiais duráveis e fáceis de limpar. Mais uma vez, eles se opõem. Seria muito prático trabalhar com móveis de plástico ou papéis de parede em vinil, mas, na opinião dos profissionais, isso teria mais benefícios para os adultos encarregados da manutenção do espaço do que para o público-alvo. A ideia deles é evitar o uso de sintéticos e estimular o contato das crianças com materiais naturais como madeira e ferro, que exalam cheiros característicos e proporcionam sensações diferentes ao toque.
Os banheiros, lugares que muitas vezes não recebem tanta atenção na concepção de projetos, ganham bastante importância nos desenhos do Youji no Shiro. Os janelões de vidro, que num primeiro momento podem afugentar os mais tímidos, mostram a preocupação em permitir a entrada de luz natural para que os banheiros sejam ambientes divertidos, arejados e bem iluminados (o que combateria o mal-cheiro e a proliferação de bactérias).
Conscientes das mudanças da sociedade japonesa e do declínio da taxa de natalidade infantil, outra preocupação do escritório é de realizar projetos que possam ser reaproveitados para outros fins no futuro. E, sobre a monotonia dos espaços brancos, beges e cinzas, os arquitetos explicam que os ambientes se tornam naturalmente coloridos com a presença das crianças. Seja pelas suas roupas, ou pela energia que espalham, são elas que trazem cores para os espaços.
Todas essas questões fazem a gente pensar sobre a relação da arquitetura com o desenvolvimento de uma criança. E, para mim, o ponto mais interessante da mentalidade do escritório está na questão de trabalhar, em certas ocasiões, com madeira sem tratamento. Segundo eles, “as crianças devem saber que a madeira envelhece”.
Impermanência, imperfeições que surgem com a passagem do tempo e apreciação de sua beleza são alguns dos pilares da filosofia japonesa wabisabi (sobre a qual escrevi este post), um dos conceitos mais bonitos que o Japão me ensinou e que, pelo visto, é ensinado desde cedo aos pequenos.
(mais fotos de projetos aqui)