Sushi no lixo. E alguém liga?

Quantos combinados como esse daria pra montar com tudo que vai parar no saco de lixo?

Nunca vou esquecer a cara de espanto do meu namorado quando o levei para conhecer um rodízio de sushi em São Paulo. E não era cara de quem estava maravilhado com toda aquela fartura e variedade de comida

Pra ser sincera, eu raramente ia a rodízios de sushi por achar a qualidade questionável em muitos deles. Como não curto essa coisa de comer até se empanturrar, sempre dei prioridade a restaurantes em que se pede à la carte. Então, para incluir um rodízio japonês na programação de um francês em SP, pedi recomendações aos meus amigos.

Acabei escolhendo um restaurante famosinho no Jardins, com preço um pouco salgado, pensando que isso seria compensado na qualidade dos pratos. Logo que chegamos, vendo aquela sala de espera lotada, recebi um daqueles negocinhos que tremem pra avisar que sua mesa está liberada. Enquanto éramos guiados até a mesa, vi que o restaurante era enorme, com mesas também no andar de cima, todas elas ocupadas. Bom sinal, pensei.

Mal sentamos e os pratos começaram a vir. Eram tantas entradinhas diferentes que, quando os sushis mais especiais começaram a ser servidos eu já nem estava mais com fome. Diferente de outros rodízios, os garçons não perguntavam o que queríamos comer, dentre as opções disponíveis no menu. Afinal, customizar pedidos significa gastar mais tempo para prepará-los. E, para dar conta de toda aquela gente esperando, alta rotatividade acaba sendo a prioridade. O ambiente era um pouco caótico, com um vai-e-vem de garçons equilibrando bandejas e pratos, se esforçando para passar entre as mesas, som alto, muita gente conversando – nada romântico.

Já estávamos satisfeitos quando um garçom trouxe mais um pratinho de sushi na nossa mesa e eu disse que já era suficiente, mas ele já estava de costas para a gente. Na mesa: sobras de algumas entradas, sushis e esse último pratinho, com 4 peças intocadas. Meu namorado me perguntou se podíamos mandar de volta esse último prato, e eu disse que provavelmente não.

  • O que eles fazem com tudo o que sobra?
  • Provavelmente jogam fora.

Diante da cara de incrédulo dele, eu chamei o garçom e expliquei que não tínhamos nem encostado naqueles últimos sushis servidos.

  • Tem como você levar de volta esse prato?
  • Se encostou na mesa do cliente, não tem como. A gente não pode servir para outra pessoa.
  • E se a gente não comer?
  • Ah, daí vai pro lixo…

Com a oportunidade de ter conhecido o chef Sawamoto e o Wallace do Sushi-kan, em Tóquio, vi que sushi e desperdício não combinam. Chef bom é aquele que não desperdiça matéria-prima e cliente bem-educado é aquele que usa a quantidade suficiente de shoyu, não mais do que isso.

Traduzi as palavras do garçom para o meu namorado e me dei conta de uma coisa. Não foi nem o “que absurdo, isso nunca aconteceria na França” que me fez pensar. Foi mesmo a cara dele. Vi uma expressão com um misto de desgosto, de tristeza, de choque. E percebi que eu tinha parado de me chocar com aquilo tudo há muito tempo.

Quando é que a gente parou de se importar com a comida que vai parar no lixo?

 

 

 

Compartilhe:

Comentários

comments

8 Comments

Deixe um comentário para Piti Koshimura Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *