Em menos de uma semana, estarei desembarcando no Japão, quase dois anos depois ter voltado pro Brasil. A ansiedade é grande. Vou rever pessoas muito queridas, fazer piquenique no Yoyogi, me esbaldar nos karaokes de salinha, ver shows de bandas locais em Shimokitazawa, comer o tartar de avocado com wasabi no meu izakaya preferido e ver quais eventos estão rolando no Tokyo Wonder Site. Assim que descer na estação de Shinkuju, tenho a impressão de que tudo vai ser estranhamente familiar e de que eu vou me virar naquele emaranhado surreal de linhas de trens como se ele sempre tivesse feito parte dos traços da palma da minha mão.

Talvez pouca coisa em Tóquio tenha mudado nesses 22 meses. Mas uma coisa que mudou com certeza foi a minha cabeça. O Japão me ensinou muitas coisas, sendo que algumas delas eu pude assimilar com mais clareza ao voltar pro Brasil.

Hoje, eu me incomodo bastante em usar dentro de casa o mesmo sapato que até o momento estava em contato com a rua. Lavo as mãos com muito mais frequência durante o dia e morro de saudades das toalhinhas quentes e dos lenços umedecidos que os restaurantes gentilmente oferecem logo que você se senta. Agora, quando o trajeto permite, desfruto do conforto de ir de metrô até os lugares, sem me preocupar com trânsito, preço de estacionamento e flanelinhas. Percebo que a elegância das mulheres japonesas está no uso de roupas mais soltas, que deixam a pele respirar e o corpo se movimentar.

Passei a entender que o maior trunfo do Japão é o enorme senso de coletividade. É pensar sempre no bem-estar de todos e não somente no seu próprio. É isso o que faz o país se reerguer depois de grandes tragédias. E entendo também que esse mesmo sentimento, em alguns casos, acaba sufocando a individualidade e os verdadeiros sonhos e vontades.

Amo o conceito de harmonia, minimalismo e equilíbrio que os japoneses seguem tão à risca seja no design, na culinária, na arquitetura e por aí vai. Ao lado de formas curvas e traços livres, encontramos linhas retas e duras. Junto com um chá amargo, é servido um docinho. Para se opor à brutalidade do concreto, a madeira se faz presente.

Outras chavinhas giraram na minha cabeça depois dos três meses que eu passei na França, numa cidade do sul chamada Montpellier. Hoje, eu me preocupo muito mais com tudo aquilo que vai parar no meu estômago, dando preferência para os ingredientes frescos e naturais. Fico inconformada com os desperdícios e com tudo o que poderia ser aproveitado, mas que acaba indo pro lixo. Prefiro pagar mais pelas coisas de qualidade e de procedência confiável do que escolher o mais barato e descartá-lo assim que ele se tornar inútil. Não me importo em comprar itens de segunda mão e me preocupo ainda mais em dar um destino feliz para as coisas que eu não tenho usado. Livros, roupas, sapatos. Hoje, meu armário ideal é aquele que cabe numa mala de viagem.

Agora, sei muito mais que tipo de assunto eu quero abordar aqui no blog e qual tipo de conteúdo eu gostaria que fosse mais divulgado. Se, antes, ao desembarcar no Japão pela primeira vez tudo parecia ser assunto digno de post e de foto, hoje eu já tento ter mais cuidado em estudar o tema e pesquisar referências antes de descrever puramente o que minha visão ocidentalizada enxerga, minimizando, assim, os riscos de reforçar estereótipos e criar generalizações.

É com essa cabeça que embarcarei na semana que vem. E tenho certeza que voltarei com outra. Mal posso esperar! <3