Mesmo sendo discretas, não pude entrar num onsen público em Hakone, cidade turística ao sudoeste de Tóquio, por causa das minhas tatuagens. Já na recepção, eles mostraram um panfleto que, entre outras informações, dizia: “Tatuagens são proibidas”. Daí expliquei que tinha duas, mas que elas não eram grandes. “Você pode cobri-las com um band-aid?”. Não, também não são tão pequenas assim.

Antes de continuar a história (que teve solução!), aqui vão alguns verbetes pra quem ainda não está familiarizado com o estilo coletivo de banho japonês:

Sento (銭湯): casa pública de banhos que costumava ser mais frequentada pelo japoneses antigamente. Mesmo com a popularização dos chuveiros e das banheiras de ofurô dentro de casa, esses estabelecimentos ainda existem, em quantidade reduzida, principalmente em lugares mais afastados dos centros urbanos. Nesse post, conto como foi a minha experiência (patética) num sento.

Onsen (温泉): a diferença para o sento é que as fontes de água são termais. Podem ser piscinas naturais ou não, ou até mesmo banheiras, desde que a água usada para abastecê-las seja naturalmente quente (acima de 25 graus). É possível desfrutar de um onsen num ryokan, a típica hospedagem japonesa, onde você pode pernoitar. Ou você pode ir em uma das diversas opções de onsen que existem no Japão para passar algumas horas e relaxar. Por se tratar de fontes naturais, esses complexos ficam em lugares mais afastados do centro das cidades, no meio da natureza, o que garante um cenário incrível para esta experiência.

No geral, o sento e o onsen são divididos em alas masculinas e femininas (existem exceções) e as pessoas entram sem roupa, biquíni, toalha, nada, NADA. Algumas outras formas de hospedagem, como os hotéis-cápsula, só oferecem a opção de banho público.

Bom, e onde é que a Yakuza entra nessa história toda? A Yakuza, a maior organização criminosa do Japão, está por trás de vários tipos de negócios como bares, casas noturnas, jogos de azar, tráfico de drogas, prostituição e pornografia. Os integrantes do grupo fazem tatuagens numa manifestação de lealdade e resistência à dor (a técnica usada é o tebori: entalhar com as mãos). E, antes mesmo da consolidação dessa cultura dentro da Yakuza, as tatuagens eram usadas para marcar criminosos no Japão.

Ou seja, de um modo geral, tatuagem no Japão é uma coisa associada à criminalidade.
Claro que eles sabem que muitos estrangeiros fazem pela estética e, inclusive, alguns jovens japoneses andam se tatuando por causa dessa influência do olhar ocidental. Mas uma forma que esses estabelecimentos encontraram de banir a frequência de membros da Yakuza foi pela tatuagem.

No caso desse onsen de Hakone, no fim, me falaram que eu podia alugar um onsen privativo, que era bem mais caro. Mas, pela minha experiência, vi que essa regra não é aplicada em todos os lugares – ufa! Já frequentei outros banhos públicos e não tive problemas. Mas uma dica que dou é: se suas tatuagens forem pequenas, cubra com um band-aid ou um patch e se forem na nuca ou nos ombros, mantenha uma toalhinha por cima.