Ombros à mostra: um sinal de indecência

Devo ter ofendido muitos japoneses por aí durante todo o verão, sem saber. Todo dia eu saía de casa usando regata, blusas de alcinhas e vestidos sem manga. Eu até notava que as japonesas, mesmo no calor absurdo de 40ºC, usavam sempre uma malha ou casaquinho e, juntando as peças, cheguei a pensar que elas queriam se proteger do sol, já que ter a pele bem branquinha é bastante valorizado aqui (isso vem dos tempos antigos: ter a pele clarinha é sinal de que a mulher não tinha que sair de casa pra trabalhar, ou seja, tinha bastante dinheiro).

Mas, para a minha surpresa, descobri que há outro motivo por trás disso. Há umas semanas, eu estava em frente à escola de japonês conversando com alguns amigos, decidindo onde iríamos almoçar. Falando com um e com outro, não percebi, mas um deles notou que um senhor japonês, andando na calçada, me encarou com um olhar de total reprovação e continuou me encarando mesmo depois de passar por mim, virando o pescoço. Na hora, achei que foi por causa das tatuagens (apesar de serem discretas), ou talvez por ser a única garota no meio de um grupo de homens. Na verdade, nenhum desses argumentos me pareceu forte o suficiente, mas, como algumas coisas estranhas têm acontecido comigo aqui, sendo que para nem todas eu acho uma explicação, eu não dei muita bola.

Esses dias, por acaso, encontrei esse post chamado “No Shoulders Please“. Aí fiquei sabendo que exibir os ombros no Japão é… bem, como dizer com um vocabulário adequado… inapropriado. Além disso, nada de decotes que mostrem o colo ou de blusas justas. Alcinhas do sutiã à mostra, então, nem pensar! No dia que o japonês ficou me encarando, estava infringindo todas essas regras.

Ops.

Se uma mulher usa blusas assim num ambiente de trabalho, podem achar que ela tem segundas intenções com o chefe ou algum colega. Nem mesmo casualmente, num passeio de fim-de-semana, o decote é bem-visto. Para mulheres gaijins (estrangeiras), eles fazem vista grossa e deixam passar. Mas, no meu caso, em que não é tão óbvio assim, fica mais difícil de usar o “gaijin pass”.

Por outro lado, nada mais comum por aqui do que ver um par de pernas cobertas só por uma minissaia ou um microshort. Não importa se está frio ou calor, se tem 15 ou 30 anos. Até a dobrinha do bumbum eu andei vendo por aí!

foto (3)

Será que o senhor japonês ia virar o pescoço pra ela também?

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Produtora de conteúdo interessada em cultura e artes, juntei meu fascínio pelo país de origem dos meus avós com a minha paixão por compartilhar histórias para criar o Peach no Japão. Aqui vocês encontrarão devaneios sobre cultura japonesa, histórias de viagem e dicas que não estão nos guias ;)

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