Antes mesmo de planejar minha primeira viagem pelo Japão, já sabia que um destino certo seria Naoshima. Naoshima é uma ilha que fica no mar de Seto (a mais de 500 km de Tóquio e a 170 km de Kyoto), cheia de museus e obras de arte espalhadas pela cidade. Muita gente toma Inhotim como referência mas, como eu ainda não conheço o complexo de artes mineiro, o que posso falar é que Naoshima é um verdadeiro sonho arquitetônico. E que o mérito é do arquiteto japonês Tadao Ando.

A ideia de transformar a pequena ilha onde vivem 3 mil pessoas em um complexo de arte contemporânea partiu de Tetsuhiko Fukutake, fundador da Benesse Corporation, gigante do ramo da educação. Acompanhando o envelhecimento da população local, o sonho de Fukutake era reunir crianças e jovens do mundo inteiro na ilha, o que ia de encontro às ambições do então prefeito, Chikatsugu Miyake, preocupado em desenvolver um pólo cultural e educacional no sul de Naoshima.

Em 1985, foi estabelecido um acordo entre eles para desenvolver o complexo privado Benesse Art Site Naoshima e, para dar forma ao conceito, foi escolhido ninguém menos que Tadao Ando. Ando, nascido em Osaka, vencedor do Pritzker de 1995, é um dos gênios da arquitetura no Japão, com projetos constuídos em vários países. Inspirado por Le Corbusier, decidiu estudar arquitetura por conta própria e fundar seu escritório, depois de abandonar empregos como motorista de caminhão e boxeador (oi?).

Dentro deste complexo, há hotéis e museus (e museus dentro de hotéis), que abrigam em seus espaços externos obras de artistas contemporâneos.

Todas as construções são de impressionar qualquer um. Um destaque é o Chichu Art Museum, uma obra que, ainda que subterrânea, faz um uso incrível de iluminação natural. A ideia é mesclar pessoas e natureza, tentando amenizar o impacto da brutalidade do concreto, o principal material usado. O resultado é lindíssimo e abriga permanentemente obras de apenas três artistas: Claude Monet, James Turrell e Walter De Maria.

A região atrai muitos turistas, então é bom planejar a ida e estadia com antecedência, principalmente no verão. Curiosamente, pelo o que percebi, Naoshima não deve ser um destino muito conhecido pelos japoneses. Sempre que falo que fui à ilha, invariavelmente eles me perguntam: “Hiroshima?”.